4 de março de 2009

Pequenos nadas..

Sao as 11h da noite.
Encerro agora o expediente, que começou às 5 da manha com o envio de email “urgentes” para Lisboa..
Vou até as traseiras desta minha barraca, sinto o calor e a humidade, que são ausentes dentro da minha casa nesta nova etapa de vida com AC, e que me inebriam o espírito e me recordam que vivo em África.
Miro o céu, carregado de nuvens escuras mas ainda assim, cheio de estrelas cintilantes que, imagino, entram também dentro dos olhos de todos vós aí longe de mim... admiro a lua, meia lua exactamente. Tal como as meias rodelas de limão com que brindaram a minha cola o fds passado (quem pede cola com limão aqui, é obviamente considerado um ser de outro planeta... traduza-se: mulungus com manias).

Faço o balanço do dia: viagem para Xai Xai de madrugada, observando o dia a espreguiçar-se e a acordar lentamente..as crianças a rir enquanto caminham pra escola.. as mulheres carregadas de roupa à cabeça, rumo à lavandaria no rio; os carros arrumados na beira da estrada, vítimas dos acidentes da última noite; os animais a caminharem pró pasto em busca da pouca erva existente. Entro na cidade de XX e disfruto do cheiro da brisa marítima, que me recorda saudosamente o meu atlântico..
Sofro dentro de uma reunião durante mais de 5 horas.
Faço uma pausa descontraída para o almoço. Aprecio o caril com piri piri e desaprecio o café expresso. Perco-me com a conversa banal, na boa companhia dos colegas/amigos. Volto para o stress de coordenar actividades com parceiros. Regresso à smurfvillage e fecho o escritório depois dos últimos afazeres lá. Já em casa, recebo ainda a xará, para um briefing do dia e comentários e fofocas finais. Termino o dia enchendo a agenda para amanhã e depois. A lápis, claro, que a mim já não me enganam com as planificações.

Relembro todos os momentos e pequenos nadas.. faço novo balanço do dia: tive tempo de pegar no J. ao colo e perceber que encher uma garrafa com água e areia é uma brincadeira que traz mais sorrisos que qq playstation. Recordo o papá E. que deve regar as minhas plantas ou estão condenadas à negligência e ausência da minha vida como dona de casa.
Aprecio o fresco do meu AC, o cheiro a roupa lavada e a batata doce cozida que a dona L. me deixou preparada para jantar. Relembro os anos da mana S. e sinto a tristeza que a distância provoca. Recebo a noticia do casório do meu titio para este verão e sinto novamente a distância.. mando sms à minha irmã de criação, a N., e atormento-me uma vez mais, com a distância a que as suas 2 crianças crescem de mim.. planeio os dias, hotéis e viagens que farei com as mulheres Abrantes quando vierem no mês que vem, finalizando o meu martírio em matéria de saudades porque me recordo de todos aqueles que cancelaram ou adiaram a sua visita..

Desligo o AC. Ponho música. Fecho os olhos. Escuto todos os insectos aqui presentes. E começo a esboçar um sorriso. Estou em África, como sonhava desde há tanto tempo. Sinto calor e não arrepios de frio. Sinto saudades, não só porque sinto a falta mas porque tantas vezes partilhei tantos momentos felizes com tantas pessoas. Canso-me e frustro-me com o trabalho mas dou o meu melhor e seguro que sou motivo de orgulho para muitos.
No final, aprecio cada troço desta caminhada e delicio-me com todos os pequenos nadas...no final, estou muito feliz e bem acompanhada.

2 comentários:

  1. O que África tem de especial são exactamente os nadas que AFENAL são os TUDOS e os TODOS que nos preenchem e fazem ser feliz. Somos realmente loucas, mulheres mulungus em terra que nem os de cá querem. Mas somos felizes com simples coisas, com simples gestos, com sorrisos. E somos exigentes. E somos fantásticas!! Viva a nós!!!

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  2. At last!!!! Bem que podia continuar à espera da sms...
    Vê se dás um oi.
    Precisamos falar.
    Beijo

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