23 de janeiro de 2011

MOMENTOS CANON 1

Dei por mim estava a visitar um parque natural cheio animais selvagens, junto com uns amigos. Não conseguia entender como ou porquê tinha ido parar ali...não me recordo..nem tão pouco saberia dizer quem eram os amigos..

Mas o ambiente era familiar e estava um dia muito bonito e cheio de sol, embora um pouco...não sei explicar..havia algo de irreal e ao mesmo tempo mágico no ar..uma neblina a pairar no ar, como nos filmes do fantástico..

Fomos recebidos por um casal de guias tipicamente sul africanos, muito grandes, muito loiros e devidamente trajados a caqui, dos pés à cabeça. Bem simpáticos, foram mostrando todos os cantos deste parque, que não obstante o seu estranho mistério, tinha também uma aura paradisíaca e exuberante que me fascinou desde logo.

Mostraram-nos um velho chimpanzé numa manifestação de corte ridícula a uma jovem fêmea, um bando de kudus irreverentes, às marradas nas árvores. E por ai fora..

A característica deste parque é que os animais não viviam em jaulas. Andavam à solta, no meio dos humanos e, teoricamente, isso deixou-me contente, claro. Pela alegre e visível liberdade em que viviam.
Mas não fiquei nada contente quando vi uma jibóia enrolada no chão a menos de 2 metros! Estremeci e refugiei-me atrás da minha guia, sem esconder o medo. “Ah, é a Clotilde. Não faz mal nenhum, só quer é festas”.. Engraçado, pensei. Clotilde é o nome da minha aranha de estimação, que vive na cozinha da minha barraca no Chokwe...

Continuamos a andar e a conhecer os animais. Não era a típica excursão, tipo safari, mas mais..não sei...era como ser apresentada aos donos de uma casa aonde se vai jantar pela 1ª vez.. Não conseguia explicar o motivo para estar ali, porque claramente aquele zoo todo não me tinha convidado para jantar...mas parecia que estava ali para aprender, para ajudar a tomar contas dos animais, para entender os seus hábitos... Talvez fosse um parque para animais feridos, pensei. Talvez esteja aqui para aprender a cuidar deles e a respeita-los..

Foi quando tive um deja vu ao avistar uma leoa a dormir de patas para o ar e as suas 3 crias a brincar vivamente à sua roda. Hum...que cena familiar. Este foi o meu 1º momento National Geographic no Kruger, há quase 3 anos..

Eis que oiço o telefone do 2º guia a tocar, e para meu espanto, era o som de água a correr. Uau! Aí estranhei mesmo! Foi o toque que um dos guias do Parque da Gorongosa me passou, quando lá estive o ano passado...

Ainda a absorver tantas coincidências, fiquei gélida ao ver um leão passear tranquilamente a sua juba e a vir roçar-se nas pernas da minha guia. Ainda que parecesse um gatinho, fez-me saltar de novo. ” Rita..tem calma. Este também é manso", disse a minha guia. " Todos aqui são mansos, só tens que os conhecer. Bem..todos não. Vês aquela fêmea ali, com uma falha de pêlo no peito? Essa sim, não te aproximes dela que até nós temos problemas em controlá-la...” Ok, não sei muito bem o que isso significa ou porquê um bicho incontrolável anda à solta mas vou tentar não esquecer esse pormenor..

O cenário muda de repente. É de noite, estou deitada numa cama. Ao ar livre. Vá-se lá saber porquê.. julgo que os meus amigos estão por perto mas não posso precisar. Oiço os passos e sons de todos os animais a passear por perto. Espreito pelo lençol e vejo a leoa mal disposta.. tem uma falha de pêlo no peito...toda eu tremo...mas simultaneamente fico paralisada.

Sinto que ela se aproxima rapidamente da minha cama, a ofegar. Cheira-me com desdém. Eu nem respiro. Sinto-a a subir para a cama e a fazer um ninho com os lençóis, enquanto o meu coração dispara em flecha..a minha mão fica a descoberto pelos lençois que ela revira a seu bel prazer..no meio do meu pânico, sinto-a a subir e aninhar-se a meu lado.
A deitar delicadamente a sua grande cabeça na minha almofada e.. toque final, a pousar a sua enorme pata em cima da minha mão, que desaparece dentro daquela concha..

Todo o meu corpo treme, toda eu suo. Acho que se ouve o meu coração a km de distância e só quero gritar...aquela pata é quente, áspera e as suas garras estão a enterrar-se vagarosamente na minha pele.. Não sei o que fazer, se grito, se fujo pelo outro lado da cama, se morro de medo ou se deixo que ela termine de me ferrar..sinto o medo a tomar conta de mim e não sei o que fazer...só consigo pensar no motivo para estar ali..

Oiço um toque. Dois toques. Três toques. É o meu telefone. Acordo bruscamente. Recebi uma mensagem. E então entendo...claro, estava a sonhar! Que alivio!!! Ufa!!! Mas ainda consigo sentir o calor daquela pata felpuda na minha mão..

Pronto...parece que ainda não me passou o trauma dos leões do Parque da Gorongosa...E esta hein?