8 de setembro de 2010

É O FIM DO MUNDO EM CUECAS!!!

Moçambique é uma república livre do colono desde 1975, com um governo democraticamente eleito e em paz relativa desde o fim de guerra civil, nos anos 90.
Tal como a grande maioria dos países africanos, sofre de todos os grandes males de um país que foi invadido à força por um potência (?) europeia e é governado por uma elite maioritária e descaradamente corrupta, consequência de séculos de opressão escravizadora exercida pela dita potência que culminaram num total desgoverno social, financeiro e humano.
Já foi um dos países mais pobres do mundo e, apesar de ter subido no ranking mundial, continua a ser um dos alvos prioritários das agências de ajuda humanitária, por fazer parte da lista de países que continua apologista da cultura do pedir e a quem poucas contrapartidas são exigidas em troca, alimentando este ciclo infindável do dá e recebe sem que isso garanta a melhoria das condições de vida da população moçambicana.

Nos últimos dias vimos, mais uma vez, o teatro montado num país cujo povo não se sabe demonstrar e cujo governo não sabe governar, culminando numa demonstração de actos violentos, perigosos para a própria população que temeu sair à rua, e uma reacção governamental que apenas culpabilizou os “destabilizadores”, relativizando o significado de uma clara manifestação de desagrado político a nível nacional.

Não foi com surpresa que me vi envolvida na História deste país.. afinal, vivo cá, estou sujeita a este tipo de experiências.
Mas foi com total pasmo que assisti à reviravolta desta manifestação.

Pois o povo moçambicano mostrou o seu (justificado) desagrado quanto à subida geral de preços: pão, água, energia. De forma errada, dirão alguns. De forma desajustada, penso eu.

O governo reagiu de um modo verdadeiramente inteligente e em concordância com o típico modo de lidar com crises populares, tão frequente em África!! Primeiro, controlou os “malfeitores” com tiros de metralhadora e raides pela cidade, depois proibiu a maior companhia telefónica de facilitar o serviço de envio de sms (!!!!!), a fim de evitar que a multidão se voltasse a reunir e a organizar novas manifestações e depois - aqui isso, é de abrir a boca com pasmo - baixou os preços dos produtos que foram a razão inicial da revolta, não para o preço original mas para um preço ainda mais baixo que o anterior (provando assim que o aumento de preços tinha sido totalmente descabido).

É ou não o fim do mundo em cuecas??!!?!

Eu não sou totalmente intolerante sobre o aumento de impostos e de preços em geral; apesar de me custar a engolir a exploração que a maioria dos governos exerce sobre nós, compreendo que uma sociedade só funciona na base da troca de riquezas: os mais ricos que sustentem os mais pobres e que paguem de acordo com isso.

Mas isto foi o descalabro total! Num país em que a maioria da população vive no limiar da pobreza (sim, um aumento de pão de 3 para 4 meticais pode parecer ridículo e insignificante para a maioria de nós, mas tentem sustentar uma família de 6 ou 7 pessoas com o salário mínimo moçambicano e logo conversamos..) e uma pequeníssima percentagem da população detém a maioria da riqueza e o Presidente é (ao que sei) um dos homens, senão, O homem, mais rico do país, dá voltas à tripa assistir estes aumentos e reduções de preços dos bens essenciais.

É, ou não, o fim do mundo em cuecas?!?!?