14 de outubro de 2010

Velando por nós...

Era uma tarde de meio de Agosto, bem solarenga.

Lá fora, sentia-se no ar uma brisa marítima e ao mesmo tempo quente, presença constante dos fins de tarde tão típicos de uma vila plantada a poucos km do mar.

Mas as persianas do quarto estavam semi- cerradas. A pouca luz, deste fim de tarde alentejano, entrava tímida pelas pequenas ranhuras plásticas.. e criava um jogo de cores misterioso, que conferia a este quarto doloroso uma estranha aura...de paz.

Ele estava deitado de barriga para cima. Ela, aninhada de lado no seu corpo. O seu braço rodeava o abdómen distendido dele, como uma mãe a amparar um filho; a sua cabeça poisava carinhosamente no ombro dele, para não magoar; e o seu pé.. timidamente tocava o dele, como medo causar de um choque de temperatura.
A mão dele procurou a dela, em cima do abdómen.. e entrelaçaram-se os dedos. Ao de leve, para que ninguém acordasse com o barulho de tanto movimento. E a cabeça cansada dele tombou ligeiramente de lado, à procura do colo da dela. Ela respondeu, claro. “Hum..estou aqui”. E roçou a testa no queixo dele e todos os outros membros se apertaram em sinfonia, fazendo desaparecer o espaço livre que ainda existia entre os seus corpos.

Dormiam... era possível ouvir um pequeno, em infantil ronronar vindo de ambos. Um ronronar que estava sincronizado pelos anos passados a dormir juntos. Como se houvesse sempre alguém presente a orquestrar a suas respirações, não fosse um compasso mal dado causar uma paragem repentina num deles.

Nas suas faces, era possível perceber um misto de emoções...cansaço, acima de tudo. Mas também tranquilidade. Por saber que já se tinham despedido. Por já terem feito as pazes de uma vida e estarem no ponto em que um precisa e pede sem pudor e o outro dá e ajuda altruisticamente.

Naquele terno momento...senti o cheiro da idade.. da doença...da dor..da despedida...mas acima de tudo... senti o ternura do amor naqueles dois corpos dorminhocos, que sem emitirem uma palavra, se amavam como dois adolescentes...

3 de outubro de 2010

É o fim do mundo em cuecas-parte II...

Uma vez que este blog nunca aspirou a ser um fórum de discussão política, económica ou social (por definição minha aliás, desde o início, é apenas um simples registo da actividade esporádica do meu Tico & Teco, às voltas neste cérebro cansado), tinha decidido deixar-me de escrever sobre os acontecimentos históricos deste país...
Mas dada a última notícia desta semana, na sequência da greve do 1º de setembro...não resisto!
A nova forma de prevenção de distúrbios sociais imposta pelo governo: todos os cidadãos com cartões de telefone pré-pagos, estão obrigados a registarem-se nas companhias telefónicas, apresentando os dados pessoais do B.I., até 15 novembro!!!
Com a desculpa de assim se evitarem raptos e afins, mas não sem antes terem sublinhado que assim também já não será possível "convocar apredajamentos na Ponta Vermelha" de forma anónima...
Gaffe política?! Violação dos direitos dos cidadãos?! Big Brother Africano?!
Fica ao critério de cada um...eu, de meu lado... penso que vivo demasiado longe da cidade para ter tempo de me registar devidamente dentro do prazo :p)