Uma cebola pequena, meticulosamente cortada em tiras finissimas. Entra para uma salão de azeite borbulhante e aguarda impacientemente a chegada de um pequeno alho, bem picado em pequenos quadrados.
Valsam os dois, ao som daquele azeite fervilhante, marinando lentamente, emanando o tipico e delicioso odor do nosso refogado tão português.
São bruscamente interrompidos pela entrada dos pedaços de tomate, grosseiramente despedaçados. E a valsa transforma-se bruscamente numa...complicada mazurka, inundada de molho avermelhado.
É então que são chamados os três pimentos verdes, de pele luzidia, em pequenas tiras e sem sementes, para entrar na festa e acalmar os animos.
Festejam todos juntos, demoradamente ao som do batuque de mais duas frescas malaguetas, que obviamente comandam a orquestra.
O conhecido refogado deita agora cheiros africanos e pede mais emoção no compasso da dança.
Ei-los quase em extase. Borbulham, desfazem-se, emanam odores, exigem uma pitada de sal e avisam que não ficarão à espera eternamente...
Chega então o rei do samba: meio kilo de mexilhão fresquinho, apanhado nessa manhã mesmo à frente da cozinheira e limpo ao som de catanadas por 2 miudos, na praia.
Entram um a um no salão e rapidamente alteram o seu aroma, de spicy africa para costa alentejana...E a festa recomeça.
Cada pedacinho de alho e cebola desliza convenientemente para dentro de cada mexilhão, à medida que estes se vão abrindo ao som daquele azeite, agora pintalgado de vermelho malagueta.
E sambam, sem pressas, até todas as conchas estarem recheadas com aquele delicioso refogado sumarento.
A festa termina com o toque final de umas ervas aromáticas, a avisar que a cozinheira está a babar-se.
E sim,a seguir tive um orgasmo gástrico com esta refeição J
E eu... um orgasmo de riso ao ler-te!!!!
ResponderEliminarContinua, não precisas de escrite criativa nenhuma! Diz-to uma professora!!!
Jokas
Como tive oportunidade de referir há alguns meses em anterior comentário, a vontade de conhecer melhor a realidade actual de Massingir e de Trigo de Morais / Chokwé, localidades moçambicanas onde vivi alguns anos da minha infância na já longínqua década de setenta do século XX, levaram-me a descobrir este blog e a tornar-me seu leitor frequente. Por isso, fico contente sempre que encontro um novo post, que o mesmo é dizer, permita-me o gracejo, sempre que o "Limpopoetal" desperta de mais um longo período de "estivação" (parece ser assim que se designa, em paragens tropicais, o fenómeno natural equivalente à hibernação). Espero, no entanto, que este meu interesse pelo seu blog não seja entendido por si como uma espécie de intrusão orweliana, pois imagino que tenha idealizado o "Limpopoetal" a pensar nos seus familiares e amigos, e não em leitores forasteiros.
ResponderEliminarO título deste seu último post, tal como os anteriores tão talentosamente escrito, trouxe-me à memória um vídeo, ou melhor, o "making of" do mesmo, que encontrei casualmente há algum tempo, sobre um outro "concerto" sui generis (ainda assim mais convencional que o seu concerto gastronómico) realizado em Massingir por uma orquestra sinfónica francesa, com a participação de duas cantoras clássicas moçambicanas, para uma campanha de promoção do turismo em Moçambique. Deixo-lhe aqui o link para o referido vídeo, se eventualmente tiver interesse e paciência em o ver:
- "Land of contrast" - the Making-Of: http://vimeo.com/7174387
Já agora, outros links relacionados com o mesmo assunto:
- "Mozambique - Land of Contrast": http://youtu.be/yun9-sLd7JA
- Os sites das cantoras moçambicanas Stella Mendonça e Sónia Mocumbi:
http://www.stellamendonca.com/
http://soniamocumbi.com/
Termino, fazendo votos para que a "estivação" em curso do Limpopoetal não seja muito longa.
João C.